segunda-feira, 19 de março de 2012

Ser diferente é ser normal.

Neste final de semana passei um tempinho a mais em casa e no intervalo de descanso dos meus estudos fui curtir a minha esposa. Estávamos deitados no sofá e ela colocou na Globo, aliás, na minha casa tem mais de 100 canais à cabo, mas ela só gosta desta emissora. Neste momento estava passando um programa da Xuxa direcionado às pessoas com Síndrome de Down.
Quem me conhece muito bem sabe que eu tenho uma sobrinha Down. Foi muito bom ver esse programa pois ele retratou a mais pura realidade de uma família que pela primeira vez passou por essa situação, todos os problemas, as angústias, o medo, o preconceito, enfim, tudo que a minha família passou há mais de 20 anos atrás.
Na Revista Veja veio uma entrevista com o Romário, que também tem uma filhinha Down dizendo todo o carinho e atenção que ele tem por ela, e engraçado que tudo que ele fez por ela para desenvolvê-la a nossa família também fez com a minha sobrinha.
E, ao ir dormir no domingo ainda vi uma reportagem no Fantástico sobre pessoas com Down que estava indo para a sede da ONU nos Estados Unidos. A idéia é criar um dia mundial só para eles. Uma homenagem mais do que justa.
O que eu posso dizer, com conhecimento de causa, é que essas pessoas transformam totalmente a vida de uma família. O choque inicial é muito grande e difícil de acreditar que isso está acontecendo “justo na minha família”. O preconceito já começa aí, infelizmente, ainda mais na cabeça de uma criança como a minha que não sabia direito o que era a Síndrome de Down.
Mas a Dandara (esse é o nome dela) foi a melhor coisa que aconteceu na nossa família. Desde os primeiros meses de vida ao iniciar o seu tratamento ela envolveu todos nós em uma “força tarefa” para ajudarmos a desenvolvê-la. Fazíamos fisioterapia nela, achávamos o máximo todas aquelas novidades, e como ela era a primeira sobrinha, a primeira neta, foi muito paparicada desde o início. Preconceito? Ninguém sabia o que era isso, só sabíamos que a amávamos, e isso já bastava.
E assim a nossa Dandara cresceu. Cercada de cuidados, mas tratada de maneira normal, pois afinal ela é normal e nada mais justo do que lhe desferir todo o tratamento normal que a sua irmã mais velha iria receber quando nascesse, ou seja, muito carinho, muito amor e dedicação.
Aprendemos muito com ela. A cada dia que passava ela desenvolvia muito com o tratamento. Mas infelizmente 20 anos atrás o preconceito ainda era muito grande, e isso às vezes machucava um pouco. Lembro que um dia estávamos na piscina e ela me disse: Tio Romulo eu não sou normal não né”? Aquilo me matou. Engoli seco e perguntei porque ela estava falando aquilo. Ela me disse que sentia, que via os outros comentarem. Mas, Deus me iluminou naquela hora e pude responder para ela que eu também não era normal pois usava óculos. Ela riu, me deu um beijo e disse “é mesmo”.
E assim crescemos. Todos nós aprendemos muito com a Dandara, ela nos ensinou a ter humildade, a ver que as pessoas nem sempre são iguais, nos ensinou a tratar todos da mesma maneira. Lá em casa sempre fomos criados aprendendo a respeitar todo mundo, mas quando acontece na nossa família é diferente, não tenha dúvida. Eu cresci muito como pessoa tendo ela como exemplo, ela me ensinou a ter humildade e respeito, me ensinou a ter força, coragem e me deu uma lição de vida muito grande. Ela é a pessoa mais feliz que eu conheço. Ela vive a vida como Deus deu para ela, e nunca reclamou por ser Down.
Há cerca de dois anos atrás Deus quase levou ela para perto Dele. Foi num domingo. Minha irmã me acordou e disse que ela estava indo para a UTI sem saber se voltava. Aquele dia a família dela passou por um momento muito difícil, todos nós ficamos sem chão, pois como ela era muito nova, ninguém estava preparado para perdê-la, ninguém saberia como seria a vida sem a Dandara. Graças à Deus, Ele está deixando ela aqui conosco, e estamos podendo viver e aprender um pouco mais com ela, que de tão amada se tornou essencial na vida de muita gente.
A Dandara sempre estudou nas melhores escolas, sempre teve amigas, fez natação, dança, está pintando quadros, trabalhou na UNIMED, conquistou milhares de fãs aqui nesta cidade, a ponto de meu pai ser conhecido como o “avô da Dandara”, a mãe como a “mãe da Dandara”, enfim, até hoje quando falamos o nome dela somos facilmente reconhecidos, pois ela encanta a todos até hoje.
Eu agradeço à Deus por ter nos dado a minha sobrinha. Ela, sem dúvida, foi um divisor de água para toda a minha família. Ela nos ensinou muita coisa, e digo por mim, que ela me deu uma lição muito grande de humildade, de viver a vida, de aceitar nossas limitações e viver de acordo com o que for possível, me ensinou que o pouco que nós temos é suficiente para sermos felizes. A Dandara com seu jeito carinhoso, que é peculiar a todos os Downs, conquista todo mundo, é impossível olhar para ela e ficar triste. Obrigado Senhor por ser tio dessa pessoa maravilhosa que amamos tanto. A Dandara é do bem...
Eu só lamento que por cargas do destino a nossa convivência foi tolhida. Hoje não temos tanto contato como antes, e isso machuca muita gente, inclusive ela, que é um ser tão inocente e que assim como os que estão privados de mais contatos com ela sofrem muito. Aprendemos a ter a Dandara conosco, é difícil entender que ela não está sempre aqui. Dói não ver aquele sorriso sempre que queremos. Mas assim como Deus A livrou daquela doença, Ele vai permitir que tudo volte ao normal na nossa família. Amém!
A música do Gonzaguinha reflete muito a história de vida que aprendemos com pessoas que tem Down: “viver e não ter a vergonha de ser feliz, cantar e cantar e cantar a beleza de ser um eterno aprendiz. Eu sei que a vida deveria ser bem melhor e será, mas isso não impede que eu repita, é bonita, é bonita e é bonita...”
É isso aí...
Um abraço...

Um comentário:

  1. Gosto muito do jeito de vc olha as coisas... vc é realmente uma pessoa abençoada!

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