terça-feira, 15 de maio de 2012

Tio Patinhas X Pato Donald.

O bom de você escrever um BLOG é que você passa a observar mais as coisas que estão ao seu redor, e principalmente passa a discutir os fatos que lhes são apresentados. É normal você dizer: “espera aí um pouco, vamos sentar, tomar uma coca-cola e ver se o que você está me falando faz sentido”. A moeda tem dois lados, vamos ver o lado mais interessante, e aí sim, posso concordar com o que me dizem.
Na semana passada estava conversando com a minha esposa sobre uma menina que largou o seu namorado de longa data para casar com outro. Até aí, uma situação normal, perfeitamente aceitável e até exigível. Mas o problema é que ela largou o ex para ficar com um cara bem mais velho do que ela, muito mais rico que o antigo e que ela não amava. Aí eu te pergunto: vale a pena uma troca dessas? Digo isso porque nós sabíamos que ela era apaixonada no ex, mas ele não poderia lhe proporcionar uma vida como ela queria, e por isso, largou quem ela amava para ficar com o dinheiro e o status do atual.
Até onde você iria por dinheiro? Você seria capaz de vender sua alma ao diabo para ter a vida dos seus sonhos? Quando digo vender a alma ao capeta estou querendo te indagar se vale a pena abrir mão de toda e qualquer virtude sua para se entregar ao deus dinheiro e fazer dele seu mestre. Você ser escravo de um pedaço de papel vale a pena em qualquer situação? A felicidade do rico custa cara, a do pobre, nem tanto, vejamos qual vale mais a pena.
Não quero criticar aqui quem tem bala na agulha para gastar. Não sou hipócrita a ponto de querer dizer que essas cédulas verdinhas, azuis, laranjadas, não são boas para qualquer ser humano que pise nessa imensa Bola Azul, mas não concordo, em absoluto, em uma busca desenfreada e sem regras para agarrar o máximo de cédulas que sua alma possa desejar.
Será que vale a pena você casar com uma pessoa por dinheiro? O cara juntar com uma encarnação da “monga” aqui na Terra vale a pena só por ela ter rios de dinheiro? Puta que pariu, acordar pensando que você está no meio de um filme da Disney e sua mulher é a bruxa da Branca de Neve é um castigo que não tem dinheiro que pague. Prefiro mil vezes estar ao lado da pessoa que eu amo do que ter que encarar um monstro todos os dias da minha vida porque ela me sustenta. Ah, vai trabalhar que dá mais certo!
O País hoje está comentando um esquema de corrupção onde um Senador está sendo acusado de beneficiar e ser amigo de um “contraventor”, “bicheiro”, “bandido”, depende do local onde passa a reportagem. Como pode uma pessoa ocupar tão elevado cargo nacional ter seu nome jogado à bancarrota da noite para o dia? Não sei das provas desse inquérito, e como ex-advogado defendo que uma pessoa só é culpada após o trânsito em julgado da sentença condenatória, mas ao que tudo indica, o dinheiro foi o principal motivo dessa história toda. Não bastou o Poder do cargo para esse Senador? Valia a pena a busca a qualquer preço por milhares de dólares? A importância de ocupar um cargo no Senado Federal deveria servir de motivação para qualquer pessoa desse mundo. Mas o que vemos ali, e não digo apenas esse Senador específico, mas de muitos outros, é a busca dos vinte por cento, dez por cento. Pessoas que foram políticos a vida inteira para se dar bem, foram capazes de levantar verdadeiros impérios sendo apenas assalariados. Porque é isso que um político é, um assalariado.
Que moral muitos políticos têm para fazerem leis para punirem bandidos? O que mais tem no nosso Congresso Nacional são políticos respondendo a processo criminal. Agora, vai prestar um concurso público e tenha uma ficha criminal igual a de muitos deles... Você não toma posse nem para porteiro do prédio da Caixa Econômica Federal.
Não precisamos ficar apenas no campo político. Quem não conhece pessoas que no trabalho derrubam os colegas para ficarem no lugar deles ou conseguirem a confiança do chefe para alcançarem uma promoção? No serviço público isso é corriqueiro também. Onde fica a moral, a virtude do cidadão nesse momento? Por isso digo vender a alma, porque essas pessoas passam por cima de tudo e de todos para aumentarem a conta bancária, não importa o preço a ser pago.
O dinheiro move o mundo, isso é fato. Vivemos nos dias atuais a vitória acachapante do capitalismo sobre o socialismo, e a busca pelo dinheiro é mais do que justa, afinal ninguém quer passar a vida inteira andando de ônibus e comendo coxinha de rodoviária. Mas que seja uma coisa honesta e sem quebrar as regras da boa convivência entre os humanos. É certo que no Planeta existem os manés que nasceram para serem manés e os caras que nasceram para fazer dinheiro, são aqueles que vendem areia no deserto e ganham muito dinheiro com isso. Se tem alguém para vender, tem alguém para comprar.
O que eu quero dizer é que o dinheiro não pode tudo. As pessoas não podem abrir mão de suas virtudes e moral para alcançar um dólar que seja. Temos que aceitar que no mundo sempre irá existir o rico e o pobre, mas que para crescermos de classe ou mesmo para nos mantermos no topo da pirâmide não precisamos pisar na cabeça de ninguém. O pobre tem que entender que nem todo mundo vai poder tomar Champagne e comer caviar na sua passagem aqui na Terra e que uma cerveja gelada e um bom tira-gosto também pode nos satisfazer.
E se você chegou no topo da escala social, tenha orgulho de onde chegou e tente manter um padrão moral aceitável. A pessoa que tem dinheiro não precisa pensar que precisa sempre ter mais. Pense em curtir o que você tem, e se novas vitórias vierem, ótimo, mas não jogue fora uma conquista que muitas vezes foi árdua. Não humilhe o outro, não roube dos inocentes, tenha um mínimo de moral que você possa ter orgulho de dizer aos seus filhos, faça a história lembrar de você como um vencedor e não como um safado filho da puta e ladrão.
Casar por dinheiro não vale a pena. Procure estar ao lado da pessoa que você verdadeiramente ama. Não tem nada melhor do que acordar ao lado de quem você sempre sonhou, de quem te faz muito bem, de quem é capaz com um simples gesto fazer você lembrar que a vida é boa demais. Se vocês não têm dinheiro, foda-se, o mundo está aí, de portas abertas para você ser um vencedor. E mesmo porque, não precisa de muita coisa para ser feliz não. A diferença da felicidade do rico e do pobre? Nenhuma... Cada um se satisfaz de uma maneira, a definição de felicidade é igual para todos.
É isso aí, um abraço.
Justificando o título: Um é podre de rico e o outro é um pobretão gaiato, mas ambos são felizes às suas maneiras.

quinta-feira, 3 de maio de 2012

Casos de Polícia.

Não raras vezes sou indagado por amigos(as) sobre a minha profissão, o que acontece dentro de uma Delegacia, se tem muita baixaria, que tipo de crimes acontecem mais, se tem coisas extraordinárias, se é perigoso, enfim, como é o dia-a-dia na DP. A primeira coisa que respondo é que para ser policial tem que ter vocação, porque não é fácil ficar dentro de um ambiente pesado como esse só pensando no salário que vai receber no final do mês. Acho que é uma espécie de funcionário público que não tem como enrolar, porque, aqui, dependendo você pode não receber no final do mês, simplesmente por não ter sobrevivido até o final do mês. É trágico, mas a profissão te cobra estar sempre cem por cento ligado.
Sem fazer drama, vamos aos fatos. Em uma delegacia há todo tipo de pessoa que vai ali. Existem os que realmente foram vítimas de qualquer espécie de crime, há os que vão ali para ter um papel nas mãos que vão lhe dar a falsa segurança de estarem protegidos (a ocorrência para essas pessoas é como se fosse um escudo do Capitão América), os que pensam que ali é o lugar para resolver qualquer problema, mas qualquer problema mesmo, os que vão ali para escutar um conselho (isso tem demais), enfim, tem para todo gosto. Vou citar alguns nas próximas linhas.
Nos meus primeiros dias de trabalho estava conversando com uma colega quando fui abordado por uma senhora, já com seus setenta anos, com cara de brava, tipicamente uma Cearense, digo isso porque sou filho de um, que me chamou e disse que queira registrar uma ocorrência contra outra mulher. Eu perguntei qual era o problema ao que fui surpreendido com o seguinte caso. O que passo a dizer agora é a mais pura verdade e tenho testemunha disso: “meu filho é o seguinte, eu sou do Ceará e já moro aqui em Brasília há muitos anos. Eu sofro muito com uma antiga vizinha minha de lá que desde que eu mudei para cá nunca mais me deixou em paz”. Eu perguntei o que era, e vejam só o que ela me disse: “o negócio é que essa mulher é macumbeira e ele fez um “serviço” para mim. Ela tem uma máquina no quintal da casa dela, que toda vez que ela aperta o botão dessa máquina, na hora me dá uma dor de barriga dos infernos. Eu já não agüento mais passar tanto desconforto, são muitos anos sofrendo com essa dor de barriga, tem dia que só falta eu fazer minhas necessidades na roupa, vocês têm que fazer alguma coisa para acabar com isso”. Eu e minha colega não sabíamos o que fazer, pensa em dois novinhos de profissão diante de um caso desses. Rir? Jamais! Mas, com muita calma e na mais absoluta educação eu disse a essa Senhora que essa ocorrência só poderia ser registrada no Ceará, porque o local do fato era a Terra do Sol Nascente (óbvio que disse Ceará). Ao que ela deixou a Delegacia satisfeita com a resposta e disse que quando voltasse ao Ceará iria na Delegacia para os policiais de lá destruírem a máquina de sua vizinha macumbeira.
Outro caso típico era o de pessoas que iam fazer programa com travestis e eram surpreendidos pelos mesmos. Havia uma resposta padrão que sempre era dita. Os caras chegavam à delegacia dizendo que haviam sido assaltados por um travesti e ao perguntarmos como havia sido o caso eles davam essa resposta: “eu estava passando aqui próximo da delegacia com o vidro aberto do meu carro e de repente ele pulou dentro do meu veículo e me assaltou com uma faca”. O fato em si até que não é tão estranho, mas era impressionante o número de pessoas que sempre davam essa resposta. O travesti pulava dentro do carro deles. Algumas vezes desconfiados de tais repostas íamos atrás dos travestis e ao levar os mesmos para a DP lá começava uma baixaria sem fim. A resposta dos travestis? “Ele queria que eu fizesse sexo oral nele e no final não me pagou”. Aí era enredo de novela das oito. Um dizendo que era mentira e o outro dizendo que era verdade. O certo é que na maioria das vezes a vítima não queria mais registrar a ocorrência porque não queria ver seu nome ligado a um roubo com travesti. O motivo? Eram casados e moravam no Plano Piloto. Como justificar que estavam na Ceilândia de madrugada e envolvido em ocorrência com travesti? Complicado... O problema é que ao tomarmos conhecimento do fato éramos obrigados a registrar a ocorrência, afinal, tratava-se de crime grave, roubo, e aí, a vítima ficava sem saída.
Conto do bilhete premiado. Você acha que isso não existe mais? Certa vez registrei uma ocorrência onde uma senhora foi ludibriada por um estelionatário aplicando este golpe tendo conseguido levar dela quatro mil reais. Ele fingindo ter um bilhete milionário nas mãos falando para uma senhora que iria rachar o dinheiro com ela acabou aplicando-lhe um golpe e a mulher ficou sem o dinheiro. Ela me disse ainda que o pior era chegar em casa e explicar para o marido o que havia acontecido. Por incrível que parece esse tipo de crime ainda é muito aplicado. Um outro golpe é deixar um envelope cheio de cheques cair no chão, uma pessoa ver e devolver o envelope e o dono oferecer uma recompensa. Só que para receber o dinheiro a pessoa tem que deixar a sua bolsa com outra pessoa enquanto ele vai pegar a grana. Enquanto a pessoa espera receber o dinheirinho, o suposto dono do cheque vai embora, a pessoa que estava com a bolsa vai embora e a recompensa é um boletim de ocorrência na DP. O detalhe é que os cheques são falsos, e o estelionatário sempre age em conluio com terceiros.
O golpe do celular onde a pessoa recebe uma ligação falando que um parente seu foi seqüestrado e que quer como pagamento de recompensa trezentos reais em crédito de telefone também acontece muito. Mensagens que chegam falando que você ganhou uma casa do Silvio Santos também aparecem aos montes, e que para a pessoa receber a casa basta depositar certa quantia que a papelada logo sai. São golpes que você acha que só têm nas novelas, mas, infelizmente na vida real existem e levam dinheiro de muita gente inocente e a maioria é pobre que não tem informação nenhuma.
Uma vez de madrugada eu estava no balcão da delegacia quando ali chegou uma pessoa andando corcunda e com a mão na barriga. Perguntei o que houve e ela me disse: “acabei de levar um tiro e queria fazer uma ocorrência!!!” Eu não acreditei naquilo. O cara acabara de ser alvejado e queria um papel ao invés de estar em um hospital se tratando. É impressionante o número de pessoas que acham uma ocorrência mais importante que qualquer outra coisa. Nesse caso levamos a pessoa para o hospital para ser tratada e fizemos as diligências preliminares sobre o fato. Depois descobrimos o porque ele queria a ocorrência.
São muitos os casos que ocorrem dentro de uma Delegacia de Polícia. Alguns engraçados, mas a maioria triste e alguns revoltantes. Infelizmente a criminalidade cresce a cada dia, esses malditos filhos da puta parecem que brotam do chão, e nosso trabalho às vezes parece que não rende. Sou a favor de uma mudança brusca em nossa Legislação Penal ou chegará a um ponto onde a bandidagem vai agir tão livremente que uma guerra civil poderá eclodir. A Polícia muitas vezes é injustiçada, mas vocês não sabem o quanto é duro enfrentar a escória para a população ter um mínimo de segurança possível. Somos pagos para isso sim, mas acho que nosso trabalho deveria ser mais recompensado e não digo pelo lado financeiro não, mas pelo fato de ver o nosso trabalho render. Se prendemos um cara com dezoito assaltos nas costas no outro dia ele não pode estar solto. Isso é covardia com a população.
Infelizmente quem faz a lei não está muito preocupado com o povo, mas sim com o bandido...
Direitos humanos existem para o vagabundo, para o homem de bem existe a Fé e a esperança...

Um abraço pessoal...