segunda-feira, 4 de junho de 2012

Qualidade ou Quantidade?

Há cerca de alguns meses o Brasil foi invadido por um assunto que encheu e está enchendo o saco até hoje, me refiro a Carlinhos Cachoeira. Não satisfeito com esse assunto a Xuxa resolveu dar um “up grade” no Fantástico e falou que foi abusada sexualmente quando criança, e para finalizar o ex-jogador Ronaldinho Gaúcho resolveu ir embora do Flamengo e levar de lá a bagatela de 40 milhões de reais pelos seus “serviços prestados” a Nação Rubro Negra.
O Brasil é assim, quando pega um assunto vai até o limite do ser humano. Faz questão de explorar o máximo da reportagem, não importando se isso vai durar um dia ou um ano. Será que nossa imprensa é tão fraca que precisa bater na mesma tecla durante uma eternidade para o povo brasileiro saber do óbvio? Ou será que você não sabia que esquema igual o de Cachoeira ocorre há mais ou menos quinhentos anos nesse país?
Será que a Xuxa foi a única que sofreu violência sexual no nosso país? Eu trabalho em uma delegacia e te digo que infelizmente esse crime é mais comum do que se possa imaginar, mas nunca vi a Globo chegar ali para fazer uma reportagem sobre o assunto. Mas com a Xuxa os meios de comunicação estão fazendo um alarde de nível nacional. Não sou contra, de maneira nenhuma, pelo contrário, o que for para combater esse tipo de horror qualquer esforço é válido, mas vamos com calma moçada. O tiro pode sair pela culatra, e como em alguns casos que já presenciei, a imaginação de uma criança é fértil e a Xuxa sendo quem é pode começar a desencadear uma série de denúncias falsas.
A revista Veja está com um forte objetivo traçado, é uma questão de honra para ela conseguir colocar o Mensalão para julgamento este ano e punir da maneira mais pesada possível o Sr. José Dirceu a quem sempre se refere como “chefe de quadrilha”. Parece que essa pessoa é o inimigo número um da revista. Aqui mais uma vez eu acho que esse processo tem que ir a julgamento sim, e o mais breve possível, mas toda semana esse assunto em pauta é de cansar qualquer leitor. O Brasil inteiro quer esse julgamento, todos nós sabemos o que houve, quem são os responsáveis por esse escândalo, por isso eu digo: chega! Vira o disco!
A imprensa no Brasil ainda é livre para divulgar o que entender, e temos jornalistas sérios, bem informados, que nos trazem grandes revelações. Ainda bem que aqui ainda é assim, ao contrário de alguns países vizinhos onde tudo é controlado e a população não tem acesso a nada, e quando tem são informações na sua maioria maquiadas para ajudar quem está no poder. Mas às vezes parece que assuntos pessoais tomam conta desses meios de comunicação e fazem qualquer um perder a paciência com certos tipos de reportagens. Será que somos burros para serem necessárias tantas reportagem sobre um mesmo tema? A credibilidade não pode ser afetada por motivos pessoais, a imprensa tem que ter um limite e respeitar o receptor da informação.
O espaço que deram para Ronaldinho também foi algo extraordinário. Não que ele não mereça muitas homenagens na televisão, mas o que ele fez, da maneira que foi feita, e jogando o que ele estava jogando, foi muito rolo de filme e muito papel gasto com quem hoje não merece tanta empolgação. Digo isso porque ele faltou com respeito a toda uma torcida e ainda fez deboche de algo que não se brinca. A paixão que muitas pessoas nutrem por um time de futebol é algo que nunca pode ser motivo de brincadeira. O Flamengo errou em não pagar? É claro que sim porra, afinal quem trabalha tem que receber, mas do jeito que ele fez, aliás, estava fazendo com o Flamengo há algum tempo, não se pode admitir. Ele brincou com o sonho de milhares de pessoas que sempre sonharam em vê-lo jogar pelo time de coração, não honrou uma camisa vestida por gênios, e fez dali um parque de diversões onde ninguém achava graça nenhuma de suas brincadeiras. O Resultado dessa babaquice dele? Hoje, segundo pesquisas de vários meios de comunicação nenhuma torcida de times considerados grandes o querem em seu plantel até agremiações menores como Bahia e acreditem, Atlético Goianiense querem vê-lo vestindo o seu uniforme. Lamentável para quem foi o melhor do mundo.
Divulgar a corrupção, violência sexual, jogadores de futebol (que hoje mais aparecem na coluna social no que na página de esportes), é tudo muito válido além de ser um dever de nossa imprensa, mas o que quero dizer por aqui é que saibam ter limites. A população merece saber o que anda acontecendo no seu País, mas massacrar o receptor da informação com uma avalanche sobre um mesmo tempo é desnecessário e muitas vezes nos faz tomar aversão pelo tema não nos deixando dar o devido valor que o tema merece. Saibam filtrar a notícia, fazer um resumo, nos deixem respirar um pouco sozinhos e podermos construir nossas próprias conclusões.
A imprensa tem que entender que ela tem um papel muito importante perante nossa população. Mas além do esquema Cachoeira o Brasil tem outros inúmeros problemas políticos como Leis que não funcionam, mordomias demais para parlamentares, Senadores pagando contas com dinheiro público, deputados sendo eleitos sem saber ler, parlamentares com ficha corrida imensa, enfim, não precisam “julgar e condenar” apenas um Senador, mas noticiem todas espécies de barbaridades que acontecem diariamente no nosso meio político, talvez assim a população saibam que ali no poder os problemas são vários e não apenas um único esquema.
Abuso sexual é um crime grave sim. Quem sofre acho que jamais vai esquecer tamanho trauma, mas divulguem também o crack que está acabando com crianças e adolescentes, a falta de segurança nas grandes, médias e pequenas cidades, Leis que estão apenas no papel, Leis que precisam ser feitas para acabar com tanta impunidade. Você não acha que um adolescente de quinze anos sabe muito bem o que faz da vida? Saibam variar os temas, não coloquem um único crime como sendo o grande problema do Brasil hoje.
Agora falar sobre celebridades nem tenho muito que dizer porque na maioria das vezes são reportagens tão infantis que não merecem nem uma nota de rodapé. Mas como fofoca vende, infelizmente somos obrigados a ler e ouvir tantas notícias ridículas que nos fazem até pensar se somos obrigados a ter esse tipo de informação. Afinal qual é a vantagem de ler: “Fulano correu na praia hoje de short e camiseta azul”? Ou: “Fulano e fulana passeiam de mãos dadas no Shopping na tarde de hoje”! A imprensa das celebridades é ridícula e às vezes alimenta fatos que são verdadeiras aporrinhações na vida de qualquer ser comum. O caso Ronaldinho já encheu...
Imprensa livre? Sim! Liberdade de expressão? Sim! Mas pelo menos nos dêem uma oportunidade de vermos outras matérias e comentários, não nos tornem receptores de uma mesma reportagem por tanto tempo. Saibam respeitar quem quer saber a notícia, mas não nos façam de idiotas. Nós merecemos saber sim o que está acontecendo no mundo, mas nos dêem um espaço para pensar sobre o assunto e emitir as nossas opiniões e, principalmente, nos deixem respirar sempre um ar novo quando quisermos. Se existe a liberdade de imprensa, tem que existir também a liberdade de ouvir e ler o que bem entendermos.
Acesso a informação é um direito de todos, mas não façam desse nosso direito uma tortura diária. Uma informação não vai se tornar mais ou menos verdadeira pelo número de vezes que ela é exposta, mas sim pela maneira que é colocada à população. Qualidade, e não quantidade!
Abraço pessoal...

Nenhum comentário:

Postar um comentário