sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Surreal



Não discordo em absoluto do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, ao dizer que cabe a cada um “a decisão de colocar em risco a própria saúde”. Isso acontece o tempo todo, desde quando ingerimos uma bebida alcoólica, fumamos um cigarro “normal”, ou comemos um pastel gorduroso da feira. Mas colocar uma afirmação como essa como pretexto para se liberar o uso da maconha, aí acho que é um exagero.
Em primeiro lugar indago a vocês leitores onde se compra maconha aqui no Brasil? Você já foi ao Pão de Açúcar comprar maconha hidropônica? No Carrefour? Na Drogasil? No bar do seu Manoel? Não! O usuário compra erva do traficante em 100% dos casos. Essa droga não é liberada por aqui, e seu comércio é punido com vários anos de cadeia.
Aí começa o problema. Como você legaliza uma droga onde quem vende é bandido? Ou você acha que se o Supremo não punir mais o usuário ele ao mesmo tempo vai permitir a sua venda nas melhores casas do ramo? Não, não vai. Se o cara quiser fumar um baseado ele vai ter que recorrer ao traficante e com isso ele vai sustentar um crime hediondo que o mundo inteiro pretende exterminar.
Colocar em risco a própria saúde é uma coisa, agora colocar em risco a vida de milhares de pessoas é outra coisa mais complexa. O tráfico é um crime violento, envolve armas pesadas, sequestro, roubos, lavagem de dinheiro, quadrilhas, homicídios, enfim, o movimento provocado por ele é muito maior do que a simples venda de uma erva ou de um pó branco para uma pessoa que quer apenas dar uma aliviada.
Sem contar que os Governos investem milhões de dólares para coibirem o tráfico no mundo inteiro. Qual seria o sentido em tentar combater esse tipo de crime se por outro lado vem o Sistema permitindo que se use um produto que vem de uma operação ilegal? É o mesmo que autorizar a compra de um produto que foi furtado. Furtar é crime, mas comprar o produto proveniente deste delito pode? Não, não pode. Para quem não sabe isso é crime previsto no Código Penal intitulado Receptação.
Se vamos liberar os limites de cada um para saber o que é bom ou ruim para sua vida ou saúde, então que esse livre arbítrio seja amplo e ilimitado. Vamos utilizar esse argumento para tudo que acharmos que cabe a nós decidirmos. Se pararmos em uma blitz sem cinto de segurança vamos dizer ao policial que a vida é minha e não quero usar esse acessório.
Como capitalista acho válido que se dê à população o direito de escolher o que é bom e o que é ruim para ela, mas desde que essa escolha seja embasada em atitudes legais, morais, e que não prejudique o direito de terceiros. Não posso aceitar um usuário de droga alimentando um crime de tráfico apenas para satisfazer seu vício. A mais alta Corte de Justiça do País não pode estimular um traficante nas suas “vendas”, pelo contrário, ele tem que inibir ao máximo uma prática preguiçosa dessa que estimula ao ócio e a prática de outros delitos.
Sem contar que o usuário de droga é pessoa certa nos nossos hospitais e clínicas de recuperação. Além dos inúmeros delitos que eles comentem para manterem seu vício e acidentes que provocam estando sob o efeito desta porcaria. Ou seja, liberar o uso de drogas é querer esvaziar as penitenciárias e encher hospitais, clínicas e cemitérios de pessoas.
Não se pode esquecer ainda o constrangimento que um policial vai passar ao abordar uma pessoa enquanto ela fuma um baseado na sua frente. Fica até uma situação totalmente surreal. A polícia não pode prender quem fuma, mas tem que prender quem vende. Porém o que ele vende é legal ou ilegal? É legal para usar e ilegal para vender? Brasil!
Não sei aonde nosso País vai chegar, o que sei é que isso aqui não vai mudar nunca. Cada dia está pior e ainda não chegamos ao fundo do poço. Quando estamos dando uma resposta ao mundo de que nem tudo aqui é festa, quando finalmente pessoas “importantes” estão pagando pelos seus crimes, a mais Alta Corte de Justiça do nosso País está na iminência de cometer um deslize como esse. Só nos resta lamentar...

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