Um
amigo meu veio me perguntar o que eu achava sobre os assassinatos dos
cartunistas em Paris. Se eu era a favor do trabalho que eles faziam, se
concordava com as charges pesadas que lhes eram peculiares, enfim, queria que
eu escrevesse sobre esse assunto no meu BLOG. Aqui vai então...
Esse
negócio de escrever BLOG é legal por isso, algumas pessoas querem saber o que
você pensa. Começo destacando que não sou a favor de fazer caricaturas com
Deus, seja ele de que religião for. Sou Cristão, sou praticante, tenho meus
ideais, procuro seguir os ensinamentos da Bíblia, mas justamente por querer que
me respeitem, que respeitem a minha fé, eu não posso jamais criticar o trabalho
de uma pessoa que resolveu fazer da crítica a uma religião seu estilo pessoal.
Não
posso criticar o trabalho de uma pessoa que não tem fé alguma, que não tem
religião, ou até tenha, mas que resolveu seguir esse caminho de charges religiosas.
Prego e sempre pregarei a liberdade. Seja ela de expressão, de ir e vir, de
xingar, de escrever, de desenhar, enfim, defendo que cada um diga o que quiser sobre
determinado assunto, mesmo porque ninguém é o dono supremo da razão.
Não
compraria um jornal como esse que desdenha da Fé das pessoas, mas daí a querer
matar um chargista por isso vai além da sanidade mental de qualquer ser humano.
Uma pessoa que diz que mata em nome de Alá é um maluco, louco, que age em nome
de um Deus que nunca passou procuração para ele para atirar em alguém. E tenho
certeza que essa atitude não está escrita em qualquer Livro Sagrado, afinal
tirar a vida de alguém não é um “privilégio” que cabe a um simples mortal.
Vivemos
na era da hipocrisia. Nada pode ser dito que ofende as pessoas. O mundo hoje
anda muito sensível para bagatelas e ao mesmo tempo deixa rolar coisas mais
importantes e pesadas. Na nossa sociedade específica, aqui no Brasil, estamos
passando por escândalos há quase dez anos e a população não fica indignada, ao
contrário, aqui sim, ela passa uma procuração em branco para que mais
roubalheiras possam acontecer. Mas quando a passagem aumentou vinte centavos,
neguinho virou o mundo, pintou a cara e foi pra rua. Pra quê?
Ouvi
a nossa presidente dizer que a ação da Polícia da França teria que ser
analisada para ver se ela não excedeu! Ora Presidente, a Sra. está achando que
lá é Brasil? Lá o policial é valorizado, lá ele é a lei, uma autoridade
respeitada, e ao final do dia eles foram aplaudidos e não apedrejados. Serão
condecorados pela bravura, inteligência e rapidez e não fuzilados pelo trabalho
que desempenharam. Eles perderam um colega na maior covardia além de terem sido
desafiados por pessoas que entraram em um local de trabalho e mataram doze
pessoas inocentes. Isso fere o orgulho de qualquer policial.
Não
vou aqui jamais criticar o trabalho de um policial. Primeiro porque eu não
estava lá para saber as circunstâncias dos fatos e segundo porque somente quem
está no local, foi preparado para esse tipo de ação, estudou, tem coragem para
encarar um bando de loucos dispostos a matar ou morrer, tem moral e competência
para dizer se ouve excesso ou não. Do contrário, é melhor ficar calado.
Aliás,
ali só se falou na morte dos cartunistas. O policial ninguém nem sabe o nome.
Herói solitário que morreu no exercício de sua função, não fugiu à luta e
acabou covardemente assassinado.
O
mundo precisa se preocupar com coisas mais sérias. Precisamos deter essas
pessoas que saem por aí matando quem não coaduna com os mesmos princípios
religiosos deles, precisamos ser mais abertos a críticas, aceitar nossos
defeitos, ter mais vergonha na cara, enfiar o rabo entre as pernas quando nos
provam que estamos errados, enfim, o mundo precisa ser mais leve. Estamos caminhando
a passos largos para uma guerra sem inimigo, vai chegar um dia que a população
vai se achar no direito de julgar e impor a pena que quiser, sem respeitar
qualquer sinal do Estado ainda presente na sociedade.
Um
desenho no jornal não pode ser motivo para uma chacina. Nada justifica esse
tipo de atitude. Sei que eles estavam sendo ameaçados a muito tempo pelo tipo
de trabalho que faziam, sei que eles assumiram o risco do negócio, mas também
não vou aceitar que pessoas que eu nunca vi na vida me obriguem a aceitar um
Deus no qual não creio e ainda que essas pessoas venham intrometer no meu
trabalho me fazendo calar. Prefiro ter o destino deles defendendo as minhas ideias
do que me calar diante de pessoas ignorantes, covardes e assassinas. Se hoje me
calo por causa de um desenho, o que será que eles vão exigir amanhã? E mais,
quem foi que disse que a vida aqui na Terra é melhor do que a que teremos
depois da morte?
Liberdade
ainda que acima de tudo...