terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

E se não houvesse carnaval?



Já faz uma semana que está rolando nas redes sociais uma imagem de uma multidão comemorando o carnaval na cidade do Rio de Janeiro. Só que ao invés de exaltarem esta festa popular, a pessoa teve a grandeza, o espírito de nacionalismo e a capacidade de dizer que estes foliões deveriam era lutar por um Brasil melhor, menos corrupto, com mais educação, enfim, aquele tradicional papo ufanista e utópico.
Em primeiro lugar gostaria de dizer que não gosto de carnaval. É uma multidão correndo atrás de um carro de som usando a mesma roupa e escutando as mesmas músicas, todo mundo bebendo muito e fazendo o que geralmente não faria em estado sóbrio. Enfim, é um pequeno inferno neste pedaço da América do Sul.
Mas o nosso país é conhecido mundialmente também pelo Carnaval. É uma festa tradicional, que gera milhões de dólares de lucro, traz uma fonte de renda para muita gente, aumenta o turismo em milhares de cidades, seja do interior ou da capital, é uma festa onde ricos e pobres se divertem do mesmo jeito. Querer cortar uma comemoração como esta é no mínimo uma insanidade.
A vida não é feita só de contas para pagar não. Lógico que na quarta-feira de cinzas as contas estarão vencendo do mesmo jeito, a corrupção no país estará sendo capa de revista, o desemprego continuará assustando muita gente, a educação no Brasil não vai decolar, a segurança pública não ser valorizada, enfim, tudo vai ser como antes de sexta-feira, nada vai mudar para melhor ou pior. Se não houvesse o carnaval o brasileiro continuaria na merda do mesmo jeito.
Esse negócio de ir pra rua reivindicar uma vida melhor não resolve muito. Lógico que tem o impacto visual, demonstra um sentimento do povo naquele momento, mas de nada adianta fazer passeata e o eleitor vota no palhaço, votar no ator da globo, no cantor, e o pior ainda votar no político de carreira. O problema não são os quatro dias de folia, o problema é o que o cidadão faz no resto do ano.
Eu não luto por uma educação melhor indo para a rua reivindicar. Eu tenho que reclamar com o meu secretário de educação, eleger um político que vai lutar por essa causa. Tenho que cobrar do Ministro, do Governador, do Presidente, e se ele não me der uma resposta a altura eu tenho que trocá-lo. Não posso eleger um político durante décadas.
Ir pra rua foi bom para derrubar Collor e Dilma, mas isso não funciona para problemas maiores. Tirar um presidente não é o mesmo que revolucionar o ensino do Brasil, não é o mesmo que resolver o problema da segurança pública.
E pode ter certeza que o problema do brasileiro não é o carnaval. Deixemos de ser hipócritas. O carnaval é uma festa do povo, movimenta a economia, é a oportunidade de pessoas ganharem dinheiro, seja vendendo cerveja, seja fazendo abadá, enfim, o que não falta é criatividade para nós nessas horas. Cada um se vira como pode. Me diz qual o problema de esquecer tudo e festejar durante quatro dias?
Se o cara quer se vestir de mulher, se o outro quer sair beijando tudo e todas, se o outro quer encher a cara, ou se a pessoa, ao contrário de todas, quer apenas ler um livro no feriadão, ninguém tem nada com isso. Muitas vezes quem posta este tipo de manifestação nas redes sociais nunca lutou nem por um sanduíche com seu irmão mais velho quando era criança.
O brasileiro está aprendendo a lutar pelos seus direitos, está apenas engatinhando, mas já é um começo. Uma mudança não se faz da noite para o dia, nem se faz somente indo para as ruas, a inteligência tem que reinar sempre. Você acha que Donald Trump venceu a eleição americana apenas pelas suas palavras rústicas e ataques às pessoas? Manifestação é apenas um estágio da luta pelo poder, por melhorias, enfim por algo novo.
Não adianta nada ir para as ruas e durante uma greve da Polícia saquear supermercado. Não adianta nada ir para as ruas e eleger o mesmo político que está sendo acusado de corrupção toda semana. Não adianta ir para as ruas e não dar educação para seus filhos para quando eles crescerem serem homens e não hóspedes de penitenciária. Não adianta nada ir para as ruas como o super-homem se depois você vira o Clark kent (a identidade secreta e covarde do super-homem para quem não sabe).
Por isso, você que posta qualquer coisa na sua timeline de rede social, veja bem o que aquele post significa. Ir pra rua é sempre bom, cada um com seus motivos, suas ideias, suas opiniões, reivindicações, enfim, deixa o povo pular no bloquinho, e se ele quiser ele vai pra rua para lutar pelo nosso Brasil. Mas carnaval bom é na rua mesmo, e lutar pelo seu país pode ser feito de diversas maneiras, inclusive dentro de casa ou de maneira silenciosa como acontece quando você está ali na frente da cabine de votação e o seu futuro está a um confirma na tecla verde.

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